pequenitudes - crônicas das pequenas atitudes humanas

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Sobre um luar de agosto



Naquela manhã de domingo, despertou com o sol batendo no rosto e com o mugido melancólico dos bois. Sentia enorme cansaço e dores pelo corpo. O ar estava empregnado de um odor doce e enjoativo.
Recordava que na noite anterior, visitara o amigo Antônio na fazenda próxima, que conversaram animadamente e beberam vinho sob a luz da lua e que se despedira, indo para casa por volta da meia noite.
Agora, tudo que precisava era sair o mais rápido possível da atmosfera modorrenta do curral e despertar daquele pesadelo. Entrou em casa e subiu até o quarto. Como de costume, fez a barba e tomou um banho demorado. Colocou lentes de contato marrons para disfarçar a estranha cor dos olhos, cortou a enorme garra - desta vez no dedo indicador direito -, aplicou cicratizante nos arranhões, raspou um tufo de longos pelos negros e ásperos que se destacava no ombro esquerdo e desceu até o canil. Recolheu o corpo destroçado do seu cão pastor e o enterrou no jardim. Limpou cuidadosamente as marcas de sangue do chão. Em seguida, ligou insistentemente para o amigo Antônio a fim de confirmar o horário da pescaria combinada e compreendeu que ele não poderia atender.
Faria o programa com o neto.

2 comentários:

  1. Olá, vim conhecer o blog e adorei! Theo sempre me levou a caminhos belos.
    Senti algo de mágico no ar, me veio imediatamente a lembrança da infância, dos medos e casos de assustar crianças...
    Recordações...
    Beijo!

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