- quanto vento, senhor! - disse a menina, olhos na janela.
- quanto frio, eu diria. - disse o idoso, apertando a coberta contra o corpo. - veja só como estou tremendo, imagino que poderia morrer de frio.
- veja só, toda a sala treme! o resto da cidade no calor, e nós aqui, desfrutando dessa belezura!
ela deve ter vinte anos, talvez menos. ele, setenta, quem sabe até oitenta. o que dizem as aparências?
são dezesseis andares, e nenhum dos dois se atreve a fechar a janela. ela, por estar demasiado excitada com a ventania. ele, por estar tremendo além do controle.
- faça-me um favor, e feche a janela -, disse o homem. - o frio é demais para mim.
mas o vento, forte, uivante, calou sua voz antes de chegar aos ouvidos da moça.
momentos depois, chuva. um trovão timidamente ressoou a quilômetros, poucos segundos depois de um feixe de luz cruzar o céu.
o vento se aquietou, e assim também a moça. entediou-se.
o senhor, calado, já não se movia.
adormecera, feliz.